“Dinheiro muda as pessoas.”
“Eu nunca vou conseguir guardar nada.”
“Se eu falar sobre dinheiro, vão me achar interesseira.”
Essas frases já passaram pela sua cabeça? Talvez você nem perceba, mas elas têm mais força do que parecem. Durante muito tempo, eu também repeti algumas delas sem pensar. E foi só quando comecei a mergulhar de verdade na minha relação com dinheiro que percebi:
O maior obstáculo financeiro que eu tinha não estava no meu saldo bancário — estava na minha mente.
Crescemos ouvindo histórias sobre dinheiro, e a maioria delas não vem de conversas abertas e tranquilas. Vem de silêncios pesados, discussões acaloradas, olhares de reprovação ou frases soltas que, sem querer, viram verdades absolutas.
Essas histórias se transformam em crenças financeiras: ideias profundas que guiam nossas decisões, muitas vezes de forma invisível. Elas estão por trás do porquê você gasta quando está ansiosa, do porquê evita falar sobre dinheiro com a família ou do porquê sente culpa sempre que se permite um pequeno prazer.
No livro A Mente Acima do Dinheiro, os psicólogos Brad e Ted Klontz chamam essas narrativas de scripts financeiros. São como roteiros que seguimos sem perceber, repetindo padrões que muitas vezes começaram antes mesmo de nascermos.
Hoje, quero te mostrar cinco crenças muito comuns — e perigosas — que podem estar sabotando sua vida financeira.
Vamos juntas entender de onde elas vêm, como elas aparecem na sua rotina e, principalmente, como quebrar esse ciclo.
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Por que nossas crenças importam mais do que imaginamos
Muita gente acha que cuidar do dinheiro é só questão de matemática. Ganha, gasta, guarda, investe.Parece simples, certo?
Mas, se fosse só sobre números, bastaria seguir uma planilha ou aplicativo para resolver todos os problemas. Na vida real, não funciona assim.
Já percebeu como você pode saber exatamente o que deveria fazer — e ainda assim, na hora H, faz outra coisa?
- Você promete que não vai parcelar nada no cartão… mas a promoção aparece e você não resiste.
- Jura que vai guardar um valor fixo todo mês, mas algo “acontece” e o dinheiro some.
- Sabe que precisa conversar sobre finanças com o parceiro, mas evita a conversa até não ter mais como adiar.
Isso não é falta de disciplina ou preguiça. É um conflito interno entre o que você quer conscientemente e o que suas crenças antigas dizem que é seguro ou possível.
Essas crenças foram construídas ao longo de anos. Vieram da sua família, das experiências da sua infância, da cultura ao seu redor. E, no Brasil, elas são reforçadas por uma realidade onde falar de dinheiro ainda é visto como algo feio ou até perigoso.
Entender essas crenças não significa apontar culpados, mas tomar consciência. Quando você percebe que está seguindo um roteiro que não escolheu, ganha a chance de escrever uma nova história.
Crença nº 1: “Dinheiro muda as pessoas”
Essa frase costuma vir disfarçada de conselho:
- “Fulano ficou metido depois que começou a ganhar bem.”
- “Cuidado para não esquecer de onde você veio.”
- “Dinheiro traz ganância.”
Ela nasce do medo. Medo de perder vínculos, medo de que relações mudem, medo de que conquistar algo signifique se afastar de quem você ama.
Muitas famílias, especialmente as que passaram por momentos de escassez, criam uma espécie de proteção emocional: demonizam o dinheiro para proteger os laços afetivos.
Na prática, isso pode te fazer:
- Recusar oportunidades de crescimento por medo de “se perder”.
- Gastar de forma descontrolada para não acumular demais.
- Esconder conquistas porque tem medo da reação das pessoas próximas.
Uma amiga me contou que, quando recebeu uma promoção, ficou com vergonha de contar para a família. Tinha medo de ouvir comentários como: “Ah, agora está se achando melhor que a gente.” Resultado: ela passou meses guardando segredo — e, sem perceber, se afastou ainda mais das pessoas que queria proteger.
O problema não está no dinheiro, mas na narrativa que você aprendeu sobre ele.
Crença nº 2: “Não adianta tentar, sempre vai faltar”
Essa crença nasce da experiência constante de instabilidade. Talvez você tenha crescido em uma casa onde o dinheiro mal dava para cobrir as despesas básicas. Ou tenha visto seus pais lutarem para pagar contas, sempre um passo atrás do próximo problema.
Quando essa é a sua referência, é natural acreditar que nada do que você faça será suficiente.
Como isso aparece na vida adulta:
- Você evita fazer planos de longo prazo porque sente que eles nunca vão se concretizar.
- Gasta por impulso, pensando: “Já que vai faltar mesmo, que falte com estilo.”
- Não se permite sonhar, porque tem medo de se frustrar.
Essa crença gera um ciclo de desânimo. Se você acredita que o resultado final será sempre o mesmo, para que se esforçar?
Mas aqui está um segredo: O primeiro passo para quebrar esse ciclo não é guardar dinheiro. É mudar a narrativa interna. É começar a acreditar que pequenas mudanças podem, sim, fazer diferença — mesmo que pareça impossível agora.
Crença nº 3: “Falar de dinheiro é falta de educação”
Durante muito tempo, no Brasil, falar sobre dinheiro foi visto como algo feio ou desrespeitoso.
Quantas vezes você já ouviu frases como:
- “Não se pergunta quanto alguém ganha.”
- “Não discuta dinheiro na frente dos outros.”
- “Assunto de dinheiro não se fala na mesa.”
O resultado desse silêncio?
- Adultos que não sabem negociar salários porque nunca aprenderam a falar sobre isso.
- Casais que escondem dívidas um do outro até que a situação fique insustentável.
- Famílias que não planejam o futuro porque ninguém se sente à vontade para expor suas finanças.
Conheci um casal que, durante anos, evitou conversar sobre dinheiro. Quando finalmente se sentaram para olhar juntos, descobriram que tinham dívidas em bancos diferentes, cartões atrasados e um empréstimo que nenhum dos dois sabia que existia.
O silêncio não protegeu a relação — pelo contrário, criou uma bomba-relógio.
Falar sobre dinheiro pode ser desconfortável no começo, mas é libertador. É no diálogo que surgem acordos, planos e, principalmente, compreensão.
Crença nº 4: “Eu não mereço ter dinheiro”
Essa talvez seja a mais dolorosa de todas. Ela nasce de experiências emocionais profundas. Talvez alguém tenha dito que você não era boa o suficiente. Ou talvez você tenha crescido em um ambiente onde sempre havia escassez, criando a sensação de que prosperidade não era para você.
Quando você acredita que não merece, tende a se sabotar:
- Gasta tudo assim que recebe, para não “segurar” algo que sente que não é seu.
- Recusa oportunidades de crescimento por medo de fracassar.
- Aceita salários ou condições ruins porque não se sente no direito de pedir mais.
Uma amiga minha conseguiu guardar R$ 5 mil em um ano. No dia em que viu o saldo na conta, sentiu uma ansiedade tão grande que gastou tudo em um final de semana.
Depois, ela me disse:
“Era como se aquele dinheiro não fosse meu de verdade. Eu precisava me livrar dele.”
Enquanto você não acreditar que merece estabilidade e liberdade, qualquer tentativa de organização será sabotada — não por falta de capacidade, mas por essa narrativa silenciosa.
Crença nº 5: “Dinheiro é só para sobreviver”
Essa crença limita sua visão de futuro. Quando você acredita que dinheiro serve apenas para pagar contas, nunca pensa em planejamento, sonhos ou liberdade. A vida se resume a:
- Trabalhar,
- Pagar boletos,
- Esperar o próximo salário.
Sem nunca parar para pensar no que realmente quer construir.
Essa crença impede que você veja o dinheiro como ferramenta. Ele deixa de ser meio para se tornar fim — e um fim nada inspirador.
Uma leitora me contou que, por anos, achava que investir era “coisa de gente rica”. Quando descobriu que podia começar com um valor pequeno, percebeu que o verdadeiro obstáculo não era financeiro — era mental. Era a crença que dizia: “isso não é para mim.”
Como começar a reescrever suas crenças financeiras
Crenças não desaparecem de uma hora para outra. Elas foram formadas ao longo de anos, às vezes gerações. Mas você pode começar a questioná-las e, aos poucos, substituí-las por narrativas mais saudáveis.
Aqui estão quatro passos para começar:
1. Traga as crenças para a luz
Pegue um caderno e escreva todas as frases sobre dinheiro que você lembra de ter ouvido na infância. Depois, marque quais delas você ainda repete hoje — mesmo que só na sua cabeça.
Esse exercício simples já começa a revelar o que estava escondido.
2. Questione cada frase
Pergunte-se:
- Essa frase ainda faz sentido na minha vida atual?
- Ela me protege ou me limita?
- Quem se beneficia quando eu acredito nela?
Exemplo:
Antigo: “Falar de dinheiro é falta de educação.”
Novo: “Conversar sobre finanças é fundamental para planejar meu futuro.”
3. Substitua por novas narrativas
Não basta tirar uma crença antiga — é preciso colocar algo no lugar.
Antigo: “Dinheiro muda as pessoas.”
Novo: “O que muda são as escolhas, não o dinheiro.”
Antigo: “Sempre vai faltar.”
Novo: “Eu posso criar estabilidade, um passo de cada vez.”
4. Pratique conversas sobre dinheiro
Falar sobre finanças pode parecer estranho no começo, mas é como aprender um novo idioma: quanto mais você pratica, mais natural fica.
- Converse com amigos sobre estratégias para economizar.
- Compartilhe sonhos financeiros com quem você confia.
- Faça pequenos acordos em família para metas em conjunto.
Conclusão: você pode mudar a narrativa
Essas cinco crenças são apenas exemplos — mas provavelmente você reconheceu algumas delas na sua própria história.
O mais importante é lembrar que seu futuro não precisa repetir seu passado. Você pode escolher quais histórias quer levar adiante e quais vai deixar para trás.
Dinheiro não precisa ser sinônimo de medo, culpa ou silêncio. Ele pode ser uma ferramenta de liberdade, tranquilidade e realização.
Essa mudança começa pequena: uma conversa, uma escolha diferente, uma nova frase que você passa a repetir. Com o tempo, essas pequenas mudanças constroem algo muito maior: uma vida financeira alinhada com quem você quer ser.
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