O novo combo do Mercado Livre promete unir Netflix, HBO Max, Disney+ e Apple TV+ por menos. Mas será que realmente vale a pena — ou estamos revivendo a era da TV a cabo, só que com outro nome?
O apelo da “economia fácil”
Quem nunca olhou a fatura e pensou: “não sei de onde saem tantos R$ 27,90”? São os streamings, as assinaturas do “só um real por mês” que, somadas, fazem um estrago discreto — aquele que a gente só percebe quando o orçamento começa a apertar.
Foi nesse contexto que o Mercado Livre lançou o Meli+ Mega, um combo que promete juntar Netflix, Disney+, HBO Max e Apple TV+ em um só plano, com preços promocionais nos dois primeiros meses e benefícios extras, como frete grátis e cashback. O discurso é sedutor: praticidade, centralização e uma economia que pode chegar a mais de R$ 300 por ano, segundo as comparações oficiais.
Mas a pergunta que fica é: a gente realmente economiza — ou só sente que está economizando?
A ideia de pagar menos por “mais coisas” desperta um gatilho emocional forte. É a sensação de estar sendo esperta financeiramente. Só que, muitas vezes, o problema não é o valor em si, mas o hábito de empilhar pequenas mensalidades sem avaliar se todas ainda fazem sentido.
O que o Meli+ Mega oferece
O novo plano do Mercado Livre é, na prática, uma expansão do antigo Meli+, que já oferecia frete grátis e descontos. Agora, ele promete reunir os principais streamings do mercado em um pacote único.
👉 Versão básica (com anúncios):
Inclui Netflix, Disney+, HBO Max e Apple TV+ por R$ 74,99/mês (após os dois primeiros meses promocionais de R$ 39,90).
Separadamente, esses quatro serviços custariam cerca de R$ 101,69.
👉 Versão completa (sem anúncios e com esportes do Disney+):
Sai por R$ 149/mês, contra um custo individual de R$ 176,60.
Há ainda a opção de personalizar os planos, escolhendo versões diferentes de cada streaming — o que pode gerar pequenos ajustes no preço final.
À primeira vista, o pacote parece vantajoso. E de fato, os números mostram uma economia direta: algo em torno de R$ 25 a R$ 30 por mês. Mas, como quase tudo no consumo moderno, a conta real vai além da matemática.
A ilusão da economia “embutida”
O Meli+ Mega acerta ao simplificar a vida de quem já assina tudo. Mas erra — ou melhor, reforça uma armadilha muito comum: a ideia de que “pagar menos” é o mesmo que “gastar bem”.
Economia real não é soma. É intenção.
Porque se você assina quatro streamings, mas só usa dois, ainda está pagando pelos outros dois — mesmo que o preço total pareça mais barato. É o mesmo princípio das promoções “leve 3, pague 2”: só vale se você realmente precisava dos três.
Muita gente já tem planos com desconto vitalício, como o da HBO Max, ou está dentro do Apple One — e, ao aderir ao combo, perde esses benefícios. Outros sequer usam todas as plataformas. Às vezes, o streaming está lá, esquecido, rodando no débito automático — e o combo faz com que ele continue existindo, mas agora dentro de uma “falsa sensação de vantagem”.
O que o Meli+ Mega traz de interessante é a discussão que ele provoca: até que ponto a praticidade digital virou sinônimo de consumo no automático?
A volta disfarçada da TV a cabo
Se antes reclamávamos da TV a cabo — aquela conta cara, cheia de canais que a gente nunca assistia —, hoje o cenário é parecido, só que com roupagem nova.
Agora temos vários aplicativos, várias mensalidades e a mesma sensação de estar pagando demais para assistir as mesmas coisas. A diferença é que, no streaming, somos nós que “montamos o combo”. Só que, no fim, ele custa o mesmo (ou até mais) do que antes.
O Meli+ Mega é o reflexo perfeito desse ciclo: a promessa de liberdade que vira mais uma forma de prender o orçamento.
Não é que o pacote seja ruim. Mas ele mostra como as empresas entenderam bem o comportamento do consumidor: quanto mais difícil for comparar preços individualmente, mais fácil é vender a sensação de vantagem. E é assim que a economia do streaming começa a se parecer cada vez mais com a volta silenciosa da TV a cabo — só que agora, a fatura vem parcelada e digital.
Como avaliar se vale a pena pra você
Antes de clicar em “assinar”, vale uma pausa honesta. Essas três perguntas ajudam a trazer clareza — e, talvez, a evitar uma nova cobrança automática no cartão:
- Quantos desses serviços você realmente usa todo mês?
— Se for menos da metade, talvez o combo não compense, mesmo com desconto. - Você já tem algum desconto ou pacote ativo que perderia ao migrar?
— HBO Max, Apple One e combos de operadora costumam oferecer valores mais baixos isoladamente. - Esse gasto cabe no seu planejamento — ou só parece vantajoso agora?
— Porque uma boa oferta sem propósito continua sendo gasto.
A praticidade só vale se ela simplifica a vida e o orçamento. Senão, vira mais um item na lista do “pago e nem lembro”.
De novo: economia não é soma, é intenção
O Meli+ Mega pode ser um bom negócio para quem já paga todos os serviços e quer concentrar as assinaturas em um único pagamento. Mas, para muita gente, é só mais um lembrete de como a ideia de “economizar” pode virar um gatilho de consumo.
No fim das contas, o que pesa não é o valor do pacote, e sim o quanto ele faz sentido dentro da sua rotina. Vale mais cancelar dois streamings que você não usa e ficar com um só que te dá prazer, do que juntar quatro e chamar isso de economia.
Porque no fim, consumir menos continua sendo o maior desconto possível.











